Editorial
Belmiro Deusdete
Não pegou nada bem para a Câmara o procedimento dos senhores vereadores nos últimos doze dias.
Alheios à seriedade do cargo e ao alto conceito da Casa, desandaram a brincar com a maneira correta de “fazer política”, entraram no ridículo clima “Tom & Jerry” e enxovalharam a conhecida CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, instrumento de que dispõe o Poder Legislativo para investigar e apurar possíveis denúncias que atinjam os interesses da coletividade.
Nada menos que quatro CPIs foram ensaiadas, duas delas por iniciativa da bancada do Governo, o que não deixa de ser uma tremenda contradição levando-se em conta que a função principal da comissão, de formação temporária, é atuar no controle de práticas irregulares realizadas por membros do poder público, ou seja, é uma prerrogativa da oposição.
O primeiro ensaio se deu no dia 4 quando oito vereadores, componentes da Bancada da Oposição, apresentaram o pedido de abertura da CPI para apurar o superfaturamento no transporte escolar, relativo aos dois primeiros anos da atual gestão, o que já suscitou comentários desairosos da comunidade porque a Bancada do Governo queria que fosse incluído o período de 2009 a 2018, incluindo os dois mandatos do gestor anterior que estão sendo alvos de investigação por parte da Polícia Federal.
O troco governista veio na sessão seguinte, dia 6, quando vereadores governistas, o independente Raimundo Gode e, estranhamente, os oposicionistas Luciano Sérgio e Thor de Ninha, protocolaram o segundo pedido para investigar as atividades da SMTT, também no período de 2009 a 2018.
A partir dai, a situação desandou completamente.
Dois novos pedidos de CPI foram inventados.
Governistas queriam apurar sobre o canal do Silva Jardim, problema que se arrasta por três décadas e que deve envolver os grupos dominantes da política local em todas as correntes e/ou ideologias, enquanto oposicionistas pretendiam esmiuçar as atividades do setor de saúde.
Em razão da trapalhada que envolveu a composição da própria Câmara, os documentos foram anulados pelas normas vigentes, tornando sem efeito todos os pedidos que, parece, faziam parte apenas de um jogo político surrealista e provinciano.
Ao contrário da apuração de tudo, como indicava a comentada abertura de quatro CPIs, os vereadores resolveram não apurar nada, deixando uma tremenda dúvida na comunidade: seria uma brincadeira parlamentar, um ridículo embate político ou “aí tem”?
Representantes dos anseios e dos sentimentos da comunidade, os vereadores não podem se dar ao luxo de transformarem a Câmara Municipal, principal poder de uma cidade, em um local de brincadeiras e politicalhas ou de arena para uma luta estúpida que não leva a nada e nem proclama um vencedor.
O episódio, além de banalizar a CPI, apequena a Câmara e serve como um péssimo exemplo para o cidadão.
Redação com Jornal Gazeta dos municípios